terça-feira, 26 de julho de 2011


Weather changes moods


à chegada.

Da imagem liberta ou da forma como a libertação da nudez, nos conduz à tua espera.


Surges em seio, feita de luz. Teu cão diz que tu sabes que queres as coisas mas não as consegues despir, porque aos teus olhos, as coisas são o teu corpo, em pose universal. Ele debruça-se, em ondulações diurnas, sobre o teu joelho - o dorido, que viveu mais - e tu sabes que será sempre sobre esse joelho que a dor cairá em forma de prazer, através da cabeça do teu cão. Pintava-te entre pêlos de raças perigosas e rosnavas-me baixo enquanto pensavas na dor do teu joelho sobre as minhas costas. E a dor do teu joelho lateja até hoje na minha cabeça. Conspiraste a tempo de me minar com esse osso. Não sabes de nada. Apurar o faro é para ti um prémio diário, por chegares ex-equo à vida dos outros, às coisas deles. Voltares-te para mim, continua a ser exactamente o mesmo que virar a página de um livro. Envaideces-me de ganas.

sábado, 23 de julho de 2011

Cambraia

Estou velho. Hoje parei entre o meio da rua e da minha idade. Que rigor este, tão leve, pensar em lembrar-me sempre de ti. O esforço renova-se, de cada vez que recuso acreditar em Deus. Mas tu és completamente credo, para mim. Uma mulher assim, que existe entre as contas do rosário e o barulho diabólico da multidão, pode pedir tudo o que quiser. Descalcei-me cedo e estiquei os pés na nesga de Sol que batia sobre o chão. Via-te. Lembrava o teu reflexo, sempre ácido, ao espelho. Essa coisa de nos vermos, mato-nos, sabes?

domingo, 9 de maio de 2010

Requiem
Tu e Viena. Qualquer coisa a mais, e não seria de mulher. Um pêssego na tua mão e ultrapassas em sinfonias, os vinte e sete concertos que Mozart compôs para piano. Comecei a ouvir música, depois de viajarmos. Não se viaja com uma mulher qualquer. Sem saber, acreditava nisso com alguma fé, a que me sobrou de cinquenta anos a tentar convencer as pessoas de que eram menos virtuosas do que aquilo que pensavam. É tudo uma questão de crenças. Andavas a bater-te por chegares a samba, mas eu deixei-te estar sempre ali, onde fervilha em ânsias, um L' amant anonyme. Discografia seleccionada: a dos livros. Ainda escolho os discos que se escrevem. Tu não entendias isto e, em Viena, compraste um livro só para me desolares.
Do Estilo
É a negro que pisas o chão. Desvias a saia da vida, enquanto tocas no nariz. Da pontuação que existe, fazes em muitas pausas, o que eu faria a tempo certo, com alguns pontos finais. Não há gramática nos dias de Sol em que exclamas as horas como quem rouba tempo à metereologia. Numa tarde, descobri que posso dizer tudo, enquanto olhas para o céu. Seres Blume, é qualquer coisa que sofres em simultâneo às coisas que dizes. Era uma vez um homem que acorda numa sala sem memória. Tu apareces e não trazes ao homem nada de homem. Assim começa a história.
«Ce sont les regardeurs qui font les tableaux»
Dizias sempre que a tua relação com a filosofia, era uma coisa muito simples. Reduzia-se a um cruzar de olhos castanhos entre dois desconhecidos, numa carruagem de metro, em Lisboa, à hora de ponta. Como se não bastasse envolveres-te em conceitos, agora dás em poesia visual, e pões no flirt de um verão qualquer, uma parte da tua cabeça. Eu pedia-te que me explicasses pelo menos, porquê castanhos, se na minha cinematografia sobre a existência, os olhos claros fariam parte de qualquer capítulo mais ou menos priviligiado de um jogo casual entre corpos.
Tu dizias-me, sem grandes certezas, como sempre, que se os meus olhos eram castanhos, farias deles tudo o que eu te pedisse para com eles fazeres e pensarias sobre eles, tudo o que, na minha cinematografia, eu pensaria fazer, a partir de uns olhos claros.

Não penses que és tu só porque estás nos outros

Adivinhavas isto, como adivinhas tudo o que se dá entre linhas, desde que caminhe sobre a história e se mostre como é. Sabes bem de tudo, afinal. Fecha-se a porta. Mais um dia e tudo é um simbolo que nunca te largará. Sabes que, no teu caso, a tragédia é sempre saudável. Dizia-te ele: as coisas nunca mudam. Há coisas que só entendes quando cais na própria. É um problema teu. Cais sempre nas coisas e nunca tiveste grandes planos para te lançares. Vê bem. Cais e não pedes nada. Que religiosa forma de se ser. Formas de Sábado à noite.
Talvez venhas a ser feliz. Talvez.
Anna Blume existe e é uma personagem que arde noutro país.
Rodeá-la de realidade é bom, porque o fundo é sempre negro.
Hoje descobriste um novo caminho entre o cúmulo das coisas e nós.

Acabo por me rir, porque tens graça. Principalmente, quando pensas tantas vezes sobre tudo que me enjoas a mim, que vejo, do lado de fora, todos os teus pensamentos a naufragar com uma facilidade quase criadora, de tão profunda que se torna, vinda de ti.
Recorda-me só, que és uma natureza morta.

Qualquer ficção que consigas criar, dilui-se na tentativa vã, de abrires a porta da tua casa e pisares com os teus pés, a tua rua. Um dia, agarrei-te um tornozelo e rodaste sobre ti, envaidecida por estares também sobre mim e em espiral, acima da minha existência. A tentativa de te causar uma dor na perna que adivinhaste ser, para mim, a perna suprema, lunar, nocturna, perdi-a eu, quando soltaste uma alegria das tuas. Compras alegrias na loja da esquina que fechou para mim, porque eu sou aquele género de homem ou de mulher, que fecha as lojas que vendem alegria, simplesmente porque me apetece ser só e ter uma paixão secreta que entra pela janela. Adormeci, enquanto viravas o bairro ao contrário.
Quando me disseste que te sentias capaz de matar, tive a certeza de que já leste tudo o que havia para ler.

 
É de noite e tudo o que sou capaz de dar, acaba no parapeito desta janela. Não me lembro bem de ti, mesmo quando estás presente. É sobre estas coisas gulosas da memória que se faz a história. Um exército pelos teus pés e continuo nesta insistência romântica de achar que devias pintar mais vezes as unhas de vermelho. Que o fatal não está na cor sei eu, mas gostava de te enganar, pelo menos uma vez, antes de adormecermos em curta-metragem.
Hoje acordaste com a culpa presa no copo de leite que trazes entre as pernas.

Não te esqueças de equilibrar as coisas a partir da força dos teus joelhos. As vezes que te entornaste e te torturaste em mim bastaram, para perceber que o latejar do teu coração, são dois joelhos de dor. Contavas-me que em criança, te ajoelhavas sobre duas raquetes, te carregavas sobre elas e que pensavas nisso, o provocavas, para deixares marcados aqueles que agora te suportam a epiderme. Não fosse incompreender eu, essa coisa amadora de marcar o corpo em oração e acreditaria que guardas muitas viagens dentro de uma velha cabeça. Torna-te perseguidora e certamente acontecerás ao coração de alguém da mesma forma que aconteceste à minha boca.
Ardiam-me os olhos

Quando me cansavas com a mesma história de sempre. Andar a pensar sobre as tuas pernas na tua cabeça.
Não faças cara de má, que os meus olhos já são velhos.

Sempre tão fácil escrever sobre ti. Não fosse eu mulher e ler-me, seria quase fazer-te um filho, num canto qualquer. Tinhas uma violência canina quando andavas em esforço, de salto alto, e eu desejava tanto saber escrever naquele momento, que acabava muitas vezes por fazer roçar o bico da minha caneta sobre a pele do papel. Era quase erótico. Enquanto batias o salto no chão duro, eu roçava o bico da caneta na pele mole. Não sentias nada, não é? A literatura só se sente quando vives qualquer coisa depois de a descobrires lida. Às vezes, escrevia-te vidas e dizia-te para as comeres depois - sempre foste trémula a morder - mas eras tão pública, que não te aproximavas de mim, como eu escrevi um dia, que tu te aproximarias.
Convidavas-me sem graciosidade para te tocar e eu banalizei as mãos tantas vezes no teu pensamento, que o meu corpo se aborreceu, num dia de Inverno, quando precisava apenas, de falar contigo.
Ainda ardes na rua quando te pegam pelo braço e te chamam pelo nome?

Antigamente, sabia-te a cara melhor do que se a soubesse mesmo. Se ela fosse minha, laminava-a e lambia-a sobre as minhas mãos e seria o crime de arte mais estético de sempre. Se me incendeias, porque não te corto? - Dizia-te.

Tu refilavas sempre. Mas eu sempre fiz mais literatura das miúdas do que das mulheres. Ficas a saber. Pouco te adivinhava além do corpo que davas, que era grande, porque a tua dor era mais ou menos igual à de toda a gente. Mas ardias de uma forma diferente. Quebravas-te tantas vezes, que houve dias em que senti que fingias, quando cravavas as mãos sobre a tábua de pregos que havia nos teus sonhos. Fazias uma confusão sobre a minha cabeça e sabias enganar-me com a tua, o que é de louvar, por ter eu já tantos tempos juntos, no mesmo calendário.
After twenty seconds or so, he hears himself whisper a single word: Anna. A feeling of overpowering love washes through him. An instant after thinking these thoughts, he is attacked by a fresh wave of guilt, and he knows that Anna is dead.
Maybe it`s a different Anna.
Time, Mr. Blank, Anna says.
You understand the meaning of time, don`t you? this is thirty-five years ago.
That was my crime.